segunda-feira, 15 de maio de 2017

ENTREVISTA COM PALHAÇOS NEGROS

         VICTOR HUGO 



Qual é seu nome artístico?
    Marreco coelho cuíca
         Como você virou palhaço?
   Então, eu fiz uma iniciação com Zé Regino lá em um teatro em Águas claras, Zé Regino que é um grande palhaço daqui de brasilia, ai foi mais ou menos isso, depois fiz algumas pesquisas, fiz um outro curso com um pessoal que ja trabalhou com o Lecoq, com a Ryan Meshkin, que um grupo que se chama Tapontarrê em Campinas e algumas pesquisas assim que eu tenho com o teatro fisico que ajudam com o grupo lume teatro
Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
  Eita essa pergunta é dificil… por que eu acho que várias escolas vão dizer coisas diferentes, daonde eu venho, de um dos mestres que eu considero meu mestre palhaço, ele diz que é mais uma questão de estilo e politica de que por estarmos no Brasil a gente se chama de palhaço. 
Tem gente que vai comparar o que é Clown com virtuosidade, com algomais vaidoso, mais chique, mais gourmet, mas eu acho que não tem nada com isso, mas eu acho que dentro da palavra palhaço a gente tem td esse historico de valorização de uma cultura que é do povo, que é mais genuina, tradicional, mas acho que tudo isso de clown/palhaço depende muito da escola, acho que so não pode caber dentro dessa discussão do cômico, desse humano que é tão genuino, o elitismo.
Encontrou algum osbtáculo/ preconceito (racismo, machismo, lgbtfobia…) no seu caminho?
   Ah com certeza, mas acho que isso são opressões estruturais né, que se encontram eu acho no caminho de artes cênicas em geral por que as artes cênicas estão inseridas nessa sociedade, como diz a bell hooks, do patriarcado capitalista da supremacia branca, então com certeza encontramos essas dificuldades.
 Tem uma pesquisa que eu estou desenvolvendo agora que é buscar novamente o figurino desse palhaço, por que é um traje muito europeu, colonial do Marreco atualmente, que eu acho bom por que tem um tom de crítica mas ao mesmo tempo como se torna afro esse palhaço né, e tem transições da própria roupa né, teve uma vez que uma criança me perguntou se eu era trans por que eu uso uma leggin bem apertadinha. 
Como o palhaço é a expressão do genuino eu acho que eu nunca tinha discutido no âmbito da negritude meu palhaço, por mais que todas as ações que eu faça seja um negro fazendo, mas eu acho que essas expressões que são minhas, que são genuinas do meu ser, como ser negro ,como ser lgbt, pessoa não binaria em fluxo, pessoa trans, etc. eu tenho dificuldade com essas definições também, mas o palhaço é esse lugar livre, acho que ele também precisa ter esse lugar de questão e de necessidade com definições, o palhaço e o clown são fluidos então tem haver com isso, essa expressão do “eu” que vai encontrar a sociedade e é óbvio que no caminho nos encontramos com essas barreiras. 
Apesar de as vezes eu achar que a porta esta mais aberta pra essa menor mascara do mundo, que eh a do palhaço, quando se está com ela, quando se coloca pra jogo nessas dimensões todas.
Quais artistas nacionais e/ou internacionais que influenciam seu trabalho?
Cara, eu conheci um palhaço preto que se chama Benjamin de Oliveira, ele é maravilhoso, assim como é um dos precursores do Circo -Teatro muito pouco lembrado. Aqui em Brasília temos Zé Regino né, Denis Camargo, que são também boas influencias do que seria o palhaço. 
Temos Renato Gutti também, que trabalha com isso do cômico, do humor, culturas tradicionais…temos grandes figuras que não são exatamente palhaças mas que tem essa questão do cômico, do humor, que são fontes para que a gente se inspire, como por exemplo Matheus Bastião, um ou outro personagem do movimento harmorial de Ariano Suassuna né, como João Grilo, Xicó. 
Tem uma palhaça maravilhosa que é austriaca que se chama Tanja Simma, que um dos melhores trabalhos de palhaços que eu ja vi, e várias outras pessoas incriveis que não me lembro agora.
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora do teatro?
Atualmente eu posso me enquadrar nesse lugar de palhaço de rua mesmo, e foi um lugar que eu me coloquei depois da minha iniciação para eu pesquisar, para entender como seria esse meu palhaço pra jogo. Eu acho que meu maior palco até hoje foi a rodoviária do Plano Piloto, que é onde eu pesquiso. 
Por que viva a tradiçao da rua né? Uma grande mestra palhaça, Cecília Borges, coloca que, lembrando a historia do palhaço, o palhaço era aquele que tinha que fazer alguma coisa para as pessoas rirem, pra ganhar uma moeda pra comer né… existe um lugar de sobrevivência pro palhaço da rua,  um oficio mesmo, lá guardado nos interiores da função desse riso pra sobrevivência,  de que esse oficio apesar de envolver o riso ele é serio e a rua é um espaço democraáico né,  a rua é onde nós nos encontramos.  
O palhaço é um ser humano exposto,  ele é nu, como diria o pessoal do Lecoq. O bufão  tem esse lugar do político, da liberdade e o palhaço tem esse lugar do humano, do genuino, então nada melhor do que ter encontros genuinos com essas pessoas que também habitam um espaço genuino, é ali que eu gosto de me espetacularizar por que esse público é sincero e existem muitas barreiras sociais ainda pra chegar no teatro, são espaços de elites, espaços burocratizados. 
Ao mesmo tempo eu acho que nem todos que estão vestidos de palhaço,  de clown são palhaços, na rua há varias coisas que eu acho que foram perdendo essa tradição, esse encontro com as pessoas, acho que o palhaço esta nesse lugar para transgredir, pra subverter essas ordens do cotidiano, quando ele se instala na rua que é um lugar de performance, de jogar, se pondo pra jogo, é maravilhoso.





Um comentário:

  1. Que de mais essa entrevista, bom ler os pensamentos e experiências de palhaços negros e suas trajetórias, acho que isso potencializará a construção de metodologias que fundamente a identidade cômica do negro que é tão evidente e pouco aprofundada nas academias e coletivos.

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