segunda-feira, 15 de maio de 2017

ENTREVISTA COM PALHAÇOS NEGROS

JOÃO GABRIEL

 Qual seu nome artístico?
Carroça
Como você virou palhaço?
Eu sempre gostei muito, no circo, do palhaço. Sempre gostei dessa linguagem menos vaidosa,  menos bonitinha por assim dizer e no palhaço  eu descobri que poderia usar essa linguagem de várias maneiras tanto irônica, como cômica. 
Eu sempre fui uma pessoa que fazia muitas piadinhas, uma pessoa com um humor grande e sempre foi muito natural em mim a “zoeira”, ai um belo dia eu conheci uma pessoa, essa pessoa me levou pra fazer uma oficina dizendo que eu deveria fazer aquilo…eu não acreditava, gostava mas não acreditava que eu poderia fazer aquilo e depois dessa oficina, que foi com uma palhaça de Portugal, a Eva, eu descobri um outro mundo. 
Depois disso eu comecei a estudar de verdade, pesquisei videos, livros, comecei a assistir outros palhaçxs e fazer outras oficinas até que dentro desse processo todo eu criei meu número e passei a ser um palhaço.
Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
Esse é um tema muito recorrente na minha vida e de muitas pessoas que fazem palhaçaria, eu ouvi há alguns dias atrás de um amigo que é palhaço que fez muito sentido, o significado da palavra palhaço aqui no Brasil esta muito ligado a uma forma até pejorativa, de pessoas que se vestem de personagens ou um personagem palhaço e fazem algumas coisas que não necessariamente tem haver com esse estado, essa brincadeira essa linguagem. 
Por exemplo: eu me visto de palhaço e vou panfletar, não desmerecendo essa função, mas so para entender, e o lance do clown, sim, vem de fora, é uma palavra gringa com um significado bem “gourmet” mas que faz sentido, por que hoje em dia tem uma espécie de circo contemporâneo acontecendo e ai esse lado clown vem com outras linguagens junto.
 O clown utiliza-se tanto do teatro como de uma linguagem que foge um pouco do tradicional da palhaçaria, que tem piadas sexistas, homofóbicas, que tem piadas meio batidas que jogam com o lado de preconceito do ser humano ai esse argumento que  meu amigo me deu fez um pouco de sentido, mas acho que pra mim a diferença é só a palavra, tipo eu estou no Brasil é palhaço eu estou lá fora é clown e independe na real, depende do que você quer passar, eu até não me intitulo nada. Até evito usar um pouco a palavra clown mas por outros motivos.
Encontrou algum obstáculo e/ou preconceito (racismo, machismo, lgbtfobia..) no seu caminho?
Por fazer isso já rola um preconceito intrínsico, palhaço = artista = vagabundo e esse preconceito rola diariamente principalmente com pessoas que não tem convivência com isso ou que não acreditam que um artista pode ser um agente transformado. E ai muitas pessoas estão usando isso hoje como um motivo a mais pra poder fazer um número, expor uma ideia, tipo jogando esses preconceitos exatamente no ridículo do palhaço para poder falar desses assuntos que antes nem passavam perto de serem falados ou protestados. Já passei preconceito por ser palhaço, por ter tatuagens, por causa do meu cabelo, da minha cor.
Quais artistas nacionais e/ou internacionais que influenciam seu trabalho?
Vou começar com meus mestres e mestras, Eva Ribeiro que é essa palhaça de Portugal, Valentim Flamini que é um palhaço Argentino que foi quem me deu mais gás pra fazer isso que é um palhaço super incrível, mora na Bahia há 10 anos, é um palhaço de rua, o mestre do improviso. Tem palhaços daqui também, o Trevolino que é um palhaço que esta aqui em Brasília, outros dois palhaços Argentinos que eu me inspiro bastante é o Tomate e o Tchacovache, tem o italiano Leo Basse que é bem bufão, tem essa pegada da  ironia muito mais forte…entre outros.
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora do teatro?

Já me apresentei tanto na rua como no teatro, minha ideia é transcender isso, não ser necessariamente da rua nem do teatro. Mas eu acredito muito no poder da rua e acredito que todo mundo deve passar por esse lugar, a rua tem um poder muito grande. A espontaniedade de abrir uma roda num lugar que tem várias pessoas passando e a responsabilidade de chamar a atenção daquelas pessoas e passar alguma coisa é incrível, pra mim a palhaçaria é sobre passar alguma coisa  de uma forma que as pessoas se identifiquem independentemente do lugar que elas vieram.

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