quinta-feira, 25 de maio de 2017

Patch Adams: o médico palhaço

Patch Adams é um palhaço e médico americano, que após viver experiencias traumáticas e ser internado, percebeu que a maneira que os pacientes eram tratados não era a mais correta. Decidiu então revolucionar a medicina, transformando hospitais em ambientes mais amorosos e tornando a relação médico-paciente mais amistosa, e ele pensou essa revolução se dando por meio da introdução do riso no contato com os pacientes, trazendo assim uma identificação entre as partes e facilitando o diálogo entre eles. 
Em 1971 ele criou o Instituto Gesundheit, que leva o conceito de criar um ambiente amoroso ao pé da letra. Patch adquiriu terras no estado da Virginia nos EUA e lá a equipe médica, os pacientes e as famílias vivem em comunidade, buscando sempre a harmonia a e o bom humor. Lá os pacientes são tratados de forma inteiramente gratuita.
Patch viaja por todo o mundo, visitando hospitais e regiões carentes, sempre explorando o lado do riso e levando alegria para as pessoas que estão passando por momentos muito delicados. Ele discorda da frase “o riso é o melhor remédio”, ele diz que a amizade é o melhor remédio e por meio do riso, da palhaçada você pode criar uma identificação e dali nascer uma amizade.


domingo, 21 de maio de 2017

Palhaçoterapia

 Na década de 80 nos Estados Unidos da América, Michael Christensen, um palhaço renomado, foi convidado para fazer uma apresentação no Columbia Presbyterian Babies Hospital, um hospital infantil. O público era composto somente pelos pacientes que podiam se deslocar até o pátio do hospital, onde foi realizada a apresentação. Ficou claro para Michael e para a equipe médica que aquele contato com o palhaço tinha sido muito benéfico para as crianças e logo eles levaram a apresentação também para os pacientes que não podiam sair de seus leitos. O resultado da presença dessa interação com o palhaço foi rapidamente notável. Crianças que antes eram bastante apáticas, estavam interagindo e demonstravam interesse e alegria ao realizar as atividades.
 Depois de alguns meses de visitas e de resultados positivos, o hospital resolveu investir nesse tipo de terapia e criou assim o Clown Care Unit. Vários outros palhaços se juntaram ao grupo, que logo ganhou visibilidade pelo jeito inovador de tratar crianças. Em pouco tempo o trabalho se estendeu para outros hospitais e também para outros públicos, que não só o infanto-juvenil. Um dos palhaços que participava do Clown Care Unit era Wellington Nogueira, ator e palhaço brasileiro, que naquela época residia nos EUA. Ele se apaixonou pelo projeto e assim que retornou ao Brasil, em 1991, fundou a ONG Doutores da Alegria. Foi assim que esse tipo de terapia chegou aqui no Brasil e, como na américa do norte, chamou bastante atenção e rapidamente surgiram outros grupos pelo país.
 A terapia do riso, palhaço terapia ou besterologia, como chama os Doutores da Alegria, apesar de ter poucos embasamentos científicos e ser uma técnica recente, não encontra muita resistência no meio médico, pois é notável o feito positivo que traz para o ambiente do hospital, mudando não só o comportamento dos pacientes, mas também da equipe e dos acompanhantes. Alguns grupos exigem de seus voluntários experiências prévias com a palhaçaria, alguns oferecem cursos e outros aceitam pessoas de todos os tipos dispostas a fazer as visitas. Essa falta de sistematização acontece tanto no Brasil, quanto no exterior, mas não existem dados que afirmem existir diferenças de resultados de um grupo para outro.

  Muito ainda está para ser descoberto a respeito dos efeitos da presença do palhaço no ambiente hospitalar, mas uma coisa é certa, um ambiente amoroso, tranquilo e cheio de bom humor é sempre positivo e como dizem por aí: o riso é o melhor remédio.

sábado, 20 de maio de 2017

Uma viagem para a velha escola da palhaçaria

No dia 19 de Maio de 2017, acontecia o segundo dia do Fest Clown, um famoso festival de palhaços de Brasília que está em sua décima quarta edição.Um dos principais show do noite foi do americano Avner Eisenberg, denominado "Exceções à gravidade", responsável por cativar todos os tipos de público.
Sem falar uma palavra se quer, aquele senhor de 68 anos surpreendeu a todos com suas habilidades físicas.A essência do palhaço se pôs em prática em cada um de seus números, através de todo pequeno gesto e detalhe imposto em seus objetivos cênicos extremamente cotidianos, que demonstravam uma magia circense no mínimo encantadora.O conjunto de ações responsáveis pelo nome do espetáculo, como malabarismos com seu chapéu, seus tacos e também o equilíbrio de objetos no nariz e no queixo surpreenderam bastante a plateia.Porém no meu ponto de vista, o velho palhaço conquistou a todos com seu carisma e suas técnicas em tempo perfeito da maneira mais irreverente.
Interagindo com o público a todo momento, o senhor que se auto denomina "O palhaço excêntrico", se mostrou de enorme simpatia ao se relacionar com as crianças do público.Pude concluir então que tal espetáculo reviveu parte da criança que existe em mim, sendo impulsionado por números extremamente cômicos, que apesar de aparentarem ser complexos eram realizados com enorme simplicidade.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Benjamin de Oliveira


Primeiro palhaço negro do Brasil

BENJAMIN DE OLIVEIRA


 Benjamim Chaves nasceu em Minas Gerais, no dia 11 de junho de 1870. Foi criança no tempo em que a Lei Áurea ainda vigorava em território nacional, sendo o quarto filho de Malaquias e da escrava Leandra. Conta-se que a sua mãe tinha sido uma escrava de “estimação”, por isso teve todos os filhos alforriados ao nascer, já seu pai era um capataz e era considerado um homem terrível, que batia nele diariamente.
Benjamin fugiu de casa aos 12 anos, segundo o próprio: “meu destino era fugir. Destino de negro…” e juntou-se à troupe do Circo Sotero, atuando em números de trapézio e de acrobacia, fazendo nascer o primeiro palhaço negro do Brasil e, de acordo com o pesquisador Brício de Abreu, o primeiro palhaço negro do mundo. 
Do artista Severino de Oliveira, seu orientador no Circo Sotero, tirou seu novo sobrenome. Após quase três anos trabalhando no Circo Sotero, fugiu pela segunda vez, provavelmente porque era espancado. Foi parar num grupo de ciganos onde supôe-se que trabalhou como escravo, já que através de uma moça do grupo descobriu  que os ciganos estavam pensando em trocá-lo por um cavalo.
Após andar por várias vilas como mendigo, Benjamim chega à cidade de Mococa, onde finalmente encontra trabalho num circo de um norte-americano chamado Jayme Pedro Adayme. É lá que pela primeira vez seu trabalho no circo é remunerado.
 A estreia de Benjamim como palhaço se deu quando foi obrigado a substituir o palhaço da companhia que estava doente. 
Segundo o próprio Benjamim, “E eu tive que fazer o palhaço. E foi ali, na Várzea do Carmo, naquele barracão de zinco e tábua que eu pela primeira vez apareci vestido de palhaço...”. O resultado das suas primeiras apresentações não foi bom, recebendo, o palhaço, vaias e desaprovações.
Após se estabelecer como artista de circo, Benjamim chegou ao Rio de Janeiro, tendo o seu trabalho reconhecido não apenas pelo público, mas também pelos críticos. Foi no Rio que o palhaço vivenciou um dos momentos mais importantes de sua carreira: o seu desempenho chamou a atenção do presidente da República, o Marechal Floriano Peixoto. Por volta de 1896, conheceu Affonso Spinelli, tendo atuado no Circo Spinelli até os anos de 1930, período que correspondeu aos seus anos de maiores glórias. 

Além de seus números de clown e acrobacia, Benjamim cantava, atuava e até escreveu peças de teatro. Suas múltiplas habilidades o transformaram, também, no primeiro artista negro do cinema brasileiro. Foi aclamado como o Rei dos Palhaços no Brasil e respeitado por importantes homens do teatro.
 O circo-teatro, introduzido no Rio de Janeiro por Benjamim de Oliveira, teve o seu apogeu entre os anos de 1918 e 1938, ele começou com paródias de operetas e contos de fadas, chegando à apresentação de peças de Shakespeare entre outros. Essa versatilidade fez com que a obra de Benjamim de Oliveira marcasse uma revolução no circo brasileiro.

O reconhecimento da atuação de Benjamim foi aumentando ao longo do tempo e no início do século XX ele já era um artista renomado, mas apesar do seu sucesso, a vida de Benjamim terminou praticamente na miséria. Após intensa campanha movida por jornalistas para que Benjamim de Oliveira recebesse um auxílio financeiro do governo federal, ele finalmente consegue, mas pouco usufrui da pensão, falecendo, em 03 de maio de 1954, aos oitenta e quatro anos.







SILVA, Erminia. Circo-teatro : Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil.
. São Paulo : Editora Altana, 2007

Primeira palhaça negra do Brasil

 Maria Eliza Alves dos Reis (Palhaço Xamego)


 “Negra, pequenina, um metro e meio de muita força e coragem. Coragem essa que foi testada para enfrentar o racismo e o machismo de sua época. Nasceu na primeira década do século 20. Força tamanha que a fez enfrentar a perda de sete filhos ainda pequenos e ainda assim ter toda alegria para criar um casal de rebentos muito amados: um músico, guitarrista do cantor Roberto Carlos por 40 anos, meu tio, Aristeu Alves dos Reis, e uma jornalista, Daise Alves dos Reis Gabriel, minha mãe.
“Na vida, niña, o que vale é saúde. O resto é bolacha!”
Esse foi um dos ensinamentos de Maria-Xamego, tanto para minha mãe, quanto para mim, misturando na frase o espanhol de sua mãe, a bisavó Brígida, que nasceu no Uruguai.Em 1942, elas voltaram para São Paulo e minha avó se casou com o Avô Eurico. Um homem apaixonado, que fugiu com o circo. Nesse período meu tio-avô, Tio Toninho, palhaço Gostoso,  que era a grande estrela do Circo Guarani, teve um problema sério de saúde: uma doença degenerativa que o fez amputar as duas pernas. Da necessidade de se ter um palhaço substituto, nasceu o Xamego. E o que no princípio era um papel provisório acabou  durando 50 anos.
Não foi fácil. Mulheres não se vestiam de palhaço na época. A ideia de rir de uma mulher – difícil de aceitar ainda na nossa sociedade atual –  não agradava naqueles tempos. Foi preciso que minha avó convencesse meu bisavô. E de um jeito tradicional de circo, com o famoso “faz me rir”. Minha avó contava que vestiu uma roupa engraçada, soltou seu cabelo crespo que ficava bem armado e colocou um chapeuzinho bem pequenino na cabeça. Engraçada que era, conseguiu fazer com que meu bisavô turrão se divertisse. E o palhaço Xamego ganhou corpo!
O Xamego tinha participação em quase todos os números: na entrada com o parceiro, apresentando os filhos acrobatas, os irmãos Alves, trabalhando nas comédias e entrando no número dos malabaristas para fazer truques errados.
O seu tipo principal era matreiro e gozador, o oposto do parceiro, meu avô, que fazia a linha inteligente, séria, mas que sempre caía nas armadilhas do Xamego. E isso encantava muito as mulheres da plateia.   E havia muitas apaixonadas pelo Xamego. No final do espetáculo, elas esperavam, queriam vê-lo sem maquiagem. Minha mãe dizia ainda que foram várias as vezes que recebeu bilhetinhos para serem entregues para ele. Imagina!
Normalmente o Circo ficava em temporada nas praças, nome dado aos locais onde se apresentavam. E só no último dia de espetáculo que o mistério era desvendado: minha avó  tirava a cabeleira e se apresentava como mulher. Era uma “choradeira” das fãs apaixonadas. 
Muitos registros do Circo Guarani foram perdidos. Numa briga de família, minha tia-avó queimou fotos e documentos. Recentemente, em busca de mais detalhes da nossa história encontramos um livro chamado Terceiro Sinal, de autoria de Dirce Militello. Lá, há um capítulo chamado O palhaço que conta as impressões da escritora sobre o Circo da minha família. E há um momento muito bonito em que ela diz ter ficado fascinada ao ver o Xamego, ainda maquiado, num intervalo de cena,  amamentando uma criança: meu tio Aristeu. Sobre este episódio:

“A foto que não foi batida, que ficou dentro dos olhos e ainda vejo quando rebusco dentro de mim nos meus velhos guardados. O palhaço amamentando o filho que chorava! No camarim, o menino chorava, ela o amamentava mesmo sem tirar a maquiagem e trocar de roupa. Lá fora muita gente esperava, querendo conhecer o simpático palhaço, principalmente as moças. Engraçado como as moças se apaixonam pelos palhaços, mesmo sem conhecer o rosto… O rosto é que desperta mais atenção primeiro, talvez a curiosidade por saber quem está por trás daquela maquiagem! ou mesmo pela necessidade de sorrir!”.” 
- Relato da neta Mariana Gabriel, palhaça Birota.



Fonte: http://todosnegrosdomundo.com.br/minha-avo-era-palhaco-documentario-que-conta-a-historia-da-primeira-palhaca-negra-do-brasil-sera-lancado-hoje/

ENTREVISTA COM PALHAÇOS NEGROS

JOÃO GABRIEL

 Qual seu nome artístico?
Carroça
Como você virou palhaço?
Eu sempre gostei muito, no circo, do palhaço. Sempre gostei dessa linguagem menos vaidosa,  menos bonitinha por assim dizer e no palhaço  eu descobri que poderia usar essa linguagem de várias maneiras tanto irônica, como cômica. 
Eu sempre fui uma pessoa que fazia muitas piadinhas, uma pessoa com um humor grande e sempre foi muito natural em mim a “zoeira”, ai um belo dia eu conheci uma pessoa, essa pessoa me levou pra fazer uma oficina dizendo que eu deveria fazer aquilo…eu não acreditava, gostava mas não acreditava que eu poderia fazer aquilo e depois dessa oficina, que foi com uma palhaça de Portugal, a Eva, eu descobri um outro mundo. 
Depois disso eu comecei a estudar de verdade, pesquisei videos, livros, comecei a assistir outros palhaçxs e fazer outras oficinas até que dentro desse processo todo eu criei meu número e passei a ser um palhaço.
Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
Esse é um tema muito recorrente na minha vida e de muitas pessoas que fazem palhaçaria, eu ouvi há alguns dias atrás de um amigo que é palhaço que fez muito sentido, o significado da palavra palhaço aqui no Brasil esta muito ligado a uma forma até pejorativa, de pessoas que se vestem de personagens ou um personagem palhaço e fazem algumas coisas que não necessariamente tem haver com esse estado, essa brincadeira essa linguagem. 
Por exemplo: eu me visto de palhaço e vou panfletar, não desmerecendo essa função, mas so para entender, e o lance do clown, sim, vem de fora, é uma palavra gringa com um significado bem “gourmet” mas que faz sentido, por que hoje em dia tem uma espécie de circo contemporâneo acontecendo e ai esse lado clown vem com outras linguagens junto.
 O clown utiliza-se tanto do teatro como de uma linguagem que foge um pouco do tradicional da palhaçaria, que tem piadas sexistas, homofóbicas, que tem piadas meio batidas que jogam com o lado de preconceito do ser humano ai esse argumento que  meu amigo me deu fez um pouco de sentido, mas acho que pra mim a diferença é só a palavra, tipo eu estou no Brasil é palhaço eu estou lá fora é clown e independe na real, depende do que você quer passar, eu até não me intitulo nada. Até evito usar um pouco a palavra clown mas por outros motivos.
Encontrou algum obstáculo e/ou preconceito (racismo, machismo, lgbtfobia..) no seu caminho?
Por fazer isso já rola um preconceito intrínsico, palhaço = artista = vagabundo e esse preconceito rola diariamente principalmente com pessoas que não tem convivência com isso ou que não acreditam que um artista pode ser um agente transformado. E ai muitas pessoas estão usando isso hoje como um motivo a mais pra poder fazer um número, expor uma ideia, tipo jogando esses preconceitos exatamente no ridículo do palhaço para poder falar desses assuntos que antes nem passavam perto de serem falados ou protestados. Já passei preconceito por ser palhaço, por ter tatuagens, por causa do meu cabelo, da minha cor.
Quais artistas nacionais e/ou internacionais que influenciam seu trabalho?
Vou começar com meus mestres e mestras, Eva Ribeiro que é essa palhaça de Portugal, Valentim Flamini que é um palhaço Argentino que foi quem me deu mais gás pra fazer isso que é um palhaço super incrível, mora na Bahia há 10 anos, é um palhaço de rua, o mestre do improviso. Tem palhaços daqui também, o Trevolino que é um palhaço que esta aqui em Brasília, outros dois palhaços Argentinos que eu me inspiro bastante é o Tomate e o Tchacovache, tem o italiano Leo Basse que é bem bufão, tem essa pegada da  ironia muito mais forte…entre outros.
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora do teatro?

Já me apresentei tanto na rua como no teatro, minha ideia é transcender isso, não ser necessariamente da rua nem do teatro. Mas eu acredito muito no poder da rua e acredito que todo mundo deve passar por esse lugar, a rua tem um poder muito grande. A espontaniedade de abrir uma roda num lugar que tem várias pessoas passando e a responsabilidade de chamar a atenção daquelas pessoas e passar alguma coisa é incrível, pra mim a palhaçaria é sobre passar alguma coisa  de uma forma que as pessoas se identifiquem independentemente do lugar que elas vieram.

ENTREVISTA COM PALHAÇOS NEGROS

         VICTOR HUGO 



Qual é seu nome artístico?
    Marreco coelho cuíca
         Como você virou palhaço?
   Então, eu fiz uma iniciação com Zé Regino lá em um teatro em Águas claras, Zé Regino que é um grande palhaço daqui de brasilia, ai foi mais ou menos isso, depois fiz algumas pesquisas, fiz um outro curso com um pessoal que ja trabalhou com o Lecoq, com a Ryan Meshkin, que um grupo que se chama Tapontarrê em Campinas e algumas pesquisas assim que eu tenho com o teatro fisico que ajudam com o grupo lume teatro
Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
  Eita essa pergunta é dificil… por que eu acho que várias escolas vão dizer coisas diferentes, daonde eu venho, de um dos mestres que eu considero meu mestre palhaço, ele diz que é mais uma questão de estilo e politica de que por estarmos no Brasil a gente se chama de palhaço. 
Tem gente que vai comparar o que é Clown com virtuosidade, com algomais vaidoso, mais chique, mais gourmet, mas eu acho que não tem nada com isso, mas eu acho que dentro da palavra palhaço a gente tem td esse historico de valorização de uma cultura que é do povo, que é mais genuina, tradicional, mas acho que tudo isso de clown/palhaço depende muito da escola, acho que so não pode caber dentro dessa discussão do cômico, desse humano que é tão genuino, o elitismo.
Encontrou algum osbtáculo/ preconceito (racismo, machismo, lgbtfobia…) no seu caminho?
   Ah com certeza, mas acho que isso são opressões estruturais né, que se encontram eu acho no caminho de artes cênicas em geral por que as artes cênicas estão inseridas nessa sociedade, como diz a bell hooks, do patriarcado capitalista da supremacia branca, então com certeza encontramos essas dificuldades.
 Tem uma pesquisa que eu estou desenvolvendo agora que é buscar novamente o figurino desse palhaço, por que é um traje muito europeu, colonial do Marreco atualmente, que eu acho bom por que tem um tom de crítica mas ao mesmo tempo como se torna afro esse palhaço né, e tem transições da própria roupa né, teve uma vez que uma criança me perguntou se eu era trans por que eu uso uma leggin bem apertadinha. 
Como o palhaço é a expressão do genuino eu acho que eu nunca tinha discutido no âmbito da negritude meu palhaço, por mais que todas as ações que eu faça seja um negro fazendo, mas eu acho que essas expressões que são minhas, que são genuinas do meu ser, como ser negro ,como ser lgbt, pessoa não binaria em fluxo, pessoa trans, etc. eu tenho dificuldade com essas definições também, mas o palhaço é esse lugar livre, acho que ele também precisa ter esse lugar de questão e de necessidade com definições, o palhaço e o clown são fluidos então tem haver com isso, essa expressão do “eu” que vai encontrar a sociedade e é óbvio que no caminho nos encontramos com essas barreiras. 
Apesar de as vezes eu achar que a porta esta mais aberta pra essa menor mascara do mundo, que eh a do palhaço, quando se está com ela, quando se coloca pra jogo nessas dimensões todas.
Quais artistas nacionais e/ou internacionais que influenciam seu trabalho?
Cara, eu conheci um palhaço preto que se chama Benjamin de Oliveira, ele é maravilhoso, assim como é um dos precursores do Circo -Teatro muito pouco lembrado. Aqui em Brasília temos Zé Regino né, Denis Camargo, que são também boas influencias do que seria o palhaço. 
Temos Renato Gutti também, que trabalha com isso do cômico, do humor, culturas tradicionais…temos grandes figuras que não são exatamente palhaças mas que tem essa questão do cômico, do humor, que são fontes para que a gente se inspire, como por exemplo Matheus Bastião, um ou outro personagem do movimento harmorial de Ariano Suassuna né, como João Grilo, Xicó. 
Tem uma palhaça maravilhosa que é austriaca que se chama Tanja Simma, que um dos melhores trabalhos de palhaços que eu ja vi, e várias outras pessoas incriveis que não me lembro agora.
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora do teatro?
Atualmente eu posso me enquadrar nesse lugar de palhaço de rua mesmo, e foi um lugar que eu me coloquei depois da minha iniciação para eu pesquisar, para entender como seria esse meu palhaço pra jogo. Eu acho que meu maior palco até hoje foi a rodoviária do Plano Piloto, que é onde eu pesquiso. 
Por que viva a tradiçao da rua né? Uma grande mestra palhaça, Cecília Borges, coloca que, lembrando a historia do palhaço, o palhaço era aquele que tinha que fazer alguma coisa para as pessoas rirem, pra ganhar uma moeda pra comer né… existe um lugar de sobrevivência pro palhaço da rua,  um oficio mesmo, lá guardado nos interiores da função desse riso pra sobrevivência,  de que esse oficio apesar de envolver o riso ele é serio e a rua é um espaço democraáico né,  a rua é onde nós nos encontramos.  
O palhaço é um ser humano exposto,  ele é nu, como diria o pessoal do Lecoq. O bufão  tem esse lugar do político, da liberdade e o palhaço tem esse lugar do humano, do genuino, então nada melhor do que ter encontros genuinos com essas pessoas que também habitam um espaço genuino, é ali que eu gosto de me espetacularizar por que esse público é sincero e existem muitas barreiras sociais ainda pra chegar no teatro, são espaços de elites, espaços burocratizados. 
Ao mesmo tempo eu acho que nem todos que estão vestidos de palhaço,  de clown são palhaços, na rua há varias coisas que eu acho que foram perdendo essa tradição, esse encontro com as pessoas, acho que o palhaço esta nesse lugar para transgredir, pra subverter essas ordens do cotidiano, quando ele se instala na rua que é um lugar de performance, de jogar, se pondo pra jogo, é maravilhoso.





O pai dos Bufões

Um outro tipo de palhaço é o chamado bufão, uma figura um tanto quanto esquisita que incomoda muita gente. Conhecido por fazer críticas s...