quarta-feira, 7 de junho de 2017
O pai dos Bufões
Um outro tipo de palhaço é o chamado bufão, uma figura um tanto quanto esquisita que incomoda muita gente. Conhecido por fazer críticas sociais e buscar impactar a plateia das formas mais inusitadas o Bufão é uma figura polêmica que vive entre o pêndulo do ódio e do amor.
O italiano Leo Bassi, é por muitos reconhecido como a melhor representação desse tipo de humorista. Após apresentar seu show " The Best of Leo Bassi" no Fest Clown em Brasília, o comediante gerou diversos tipos de reflexões ao contestar o contexto político brasileiro. Algo interessante e particular do mesmo, é a maneira com que se veste, seu terno faz alusões a políticos e o quão tais representantes são figuras patéticas para ele. Durante todo o espetáculo, o artista diz claramente que ninguém deve confiar nele, principalmente pela maneira com que ele se veste. Em números estéticos como de explodir latas de coca cola, o Bufão consegue trazer também todas as críticas sociais que deseja. Logo ao fim de seu show, Leo mostra o porque de tal reconhecimento e enorme, ao se cobrir inteiro de mel e jogar penas em seu próprio corpo.
Palhaço Augusto, origem e essência
Esse tipo de palhaço típico do nariz vermelho é denominado Augusto, sua origem é Alemã e o mesmo se deriva de um tipo de acrobata. A estória por traz do ícone responsável pelo reconhecimento mundial de Augusto é a seguinte, após ser expulso do circo por cair em acrobacias simples as quais fazia com o cavalo, Tom Belling começara a mostrar seu dom de comediante ao fazer graças para seus amigos do circo, algo que chamou muito a atenção de seu diretor que o chamou de volta ao picadeiro. Logo em sua primeira apresentação, o pioneiro Belling tropeçou e caiu de cara no chão e gerou assim, a partir do inchaço de seu nariz vermelho a figura desastrada do palhaço, que foi logo denominado Augusto devido a palavra simbolizar marginalização e inaptidão de fazer algo.
Outra teoria é de que devido ao frio, oficiais da cavalaria bebiam muito para se aquecer, até que um dia um deles exagerou e acabou vestindo fardas maiores do que o seu tamanho, ao se mostrar desengonçado e ir tropeçando em sí mesmo logo gerou risos. A figura do bêbado naturalmente tinha narizes vermelhos, porém como não podiam se embriagar todas sessões os mesmos passaram a pintar seus respectivos narizes.
Por fim tendo em vista a origem acrobata desse tipo de palhaço, é importante ressaltar outra peça principal de seus figurinos, suas calças largas que em grande parte das vezes eram repletas de feno para amortecer quedas. Tal composição na maioria das vezes, é a primeira imagem da palhaçaria que surge na mente das pessoas, porém em outros posts do blog mostramos as mais diversas variações desse enorme universo clown.
segunda-feira, 5 de junho de 2017
Los sádicos Hermanos
Os palhaços Chacovachi e Tomate, são ícones argentinos respectivamente da palhaçaria de rua e circo. Apesar desse leve embate de ambientes, ambos tem uma enorme característica em comum, um enorme e específico sadismo. Tanto no show "Um palhaço do mal pode arruinar sua vida" quanto no "Tomate, puro tomate" é retratado o lado depressivo de ser palhaço, todas frustrações e revoltas típicas de artistas são explicitadas mais especificamente no universo clown.
No primeiro espetáculo citado, Chacovachi alerta o público o quanto a falta de reações prejudica seu trabalho, afirmando também que prefere ouvir vaias do que conviver com plateias indiferentes. Já no segundo a maior reflexão ocorre no final, o qual o palhaço Tomate retira sua maquiagem e disserta sobre as dificuldades da profissão.
O sadismo digno de assustar criancinhas, é um tipo de humor ácido o qual os argentinos apreciam muito, tornando ambos artistas extremamente conhecidos na América Latina. Pelo que pude apreciar de cada um no Fest Clown que já mencionei em outra matéria, a interação com o público é extremamente importante para eles. Fui particularmente chamado para participar de um número do palhaço Tomate, o qual com sua imensa quantidade de balões brincava comigo pelo fato de não conseguir fazer os barulhos que ele me pedia com determinadas bexigas. Chacovachi também fez uso de balões em seu espetáculo, porém por não ter a mesma habilidade com tais artefatos, dava o que ele chamava de "mutantes" para as crianças e dizia que elas deveriam se conformar pois a vida nunca é como se quer.
Os Argentinos decidiram se unir e estrearam um
espetáculo juntos, o espetáculo Jogo dos Maus chega ao Brasil em São Paulo na primeira quinzena de novembro.
No primeiro espetáculo citado, Chacovachi alerta o público o quanto a falta de reações prejudica seu trabalho, afirmando também que prefere ouvir vaias do que conviver com plateias indiferentes. Já no segundo a maior reflexão ocorre no final, o qual o palhaço Tomate retira sua maquiagem e disserta sobre as dificuldades da profissão.
O sadismo digno de assustar criancinhas, é um tipo de humor ácido o qual os argentinos apreciam muito, tornando ambos artistas extremamente conhecidos na América Latina. Pelo que pude apreciar de cada um no Fest Clown que já mencionei em outra matéria, a interação com o público é extremamente importante para eles. Fui particularmente chamado para participar de um número do palhaço Tomate, o qual com sua imensa quantidade de balões brincava comigo pelo fato de não conseguir fazer os barulhos que ele me pedia com determinadas bexigas. Chacovachi também fez uso de balões em seu espetáculo, porém por não ter a mesma habilidade com tais artefatos, dava o que ele chamava de "mutantes" para as crianças e dizia que elas deveriam se conformar pois a vida nunca é como se quer.
Os Argentinos decidiram se unir e estrearam um
espetáculo juntos, o espetáculo Jogo dos Maus chega ao Brasil em São Paulo na primeira quinzena de novembro.
quinta-feira, 25 de maio de 2017
Patch Adams: o médico palhaço
Patch
Adams é um palhaço e médico americano, que após viver experiencias traumáticas
e ser internado, percebeu que a maneira que os pacientes eram tratados não era
a mais correta. Decidiu então revolucionar a medicina, transformando hospitais
em ambientes mais amorosos e tornando a relação médico-paciente mais amistosa,
e ele pensou essa revolução se dando por meio da introdução do riso no contato
com os pacientes, trazendo assim uma identificação entre as partes e
facilitando o diálogo entre eles.
Em 1971
ele criou o Instituto Gesundheit, que leva
o conceito de criar um ambiente amoroso ao pé da letra. Patch adquiriu terras
no estado da Virginia nos EUA e lá a equipe médica, os pacientes e as famílias
vivem em comunidade, buscando sempre a harmonia a e o bom humor. Lá os
pacientes são tratados de forma inteiramente gratuita.
Patch viaja por todo o mundo, visitando hospitais e regiões carentes,
sempre explorando o lado do riso e levando alegria para as pessoas que estão
passando por momentos muito delicados. Ele discorda da frase “o riso é o melhor
remédio”, ele diz que a amizade é o melhor remédio e por meio do riso, da
palhaçada você pode criar uma identificação e dali nascer uma amizade.
domingo, 21 de maio de 2017
Palhaçoterapia
Na década de 80 nos Estados
Unidos da América, Michael Christensen, um palhaço renomado, foi convidado para
fazer uma apresentação no Columbia
Presbyterian Babies Hospital, um hospital infantil. O público era composto somente pelos pacientes que
podiam se deslocar até o pátio do hospital, onde foi realizada a apresentação. Ficou claro para Michael e para a equipe médica que aquele contato com o palhaço
tinha sido muito benéfico para as crianças e logo eles levaram a apresentação também para os pacientes que não podiam sair de seus leitos. O resultado da presença
dessa interação com o palhaço foi rapidamente notável. Crianças que antes eram bastante
apáticas, estavam interagindo e demonstravam interesse e alegria ao realizar as
atividades.
Depois de alguns meses de visitas e de
resultados positivos, o hospital resolveu investir nesse tipo de terapia e
criou assim o Clown Care Unit. Vários outros palhaços se juntaram ao grupo, que
logo ganhou visibilidade pelo jeito inovador de tratar crianças. Em pouco tempo
o trabalho se estendeu para outros hospitais e também para outros públicos, que
não só o infanto-juvenil. Um dos palhaços que participava do Clown Care Unit
era Wellington Nogueira, ator e palhaço brasileiro, que naquela época residia
nos EUA. Ele se apaixonou pelo projeto e assim que retornou ao Brasil, em 1991,
fundou a ONG Doutores da Alegria. Foi assim que esse tipo de terapia chegou
aqui no Brasil e, como na américa do norte, chamou bastante atenção e
rapidamente surgiram outros grupos pelo país.
A terapia do riso, palhaço terapia ou besterologia,
como chama os Doutores da Alegria, apesar de ter poucos embasamentos científicos
e ser uma técnica recente, não encontra muita resistência no meio médico, pois
é notável o feito positivo que traz para o ambiente do hospital, mudando não só
o comportamento dos pacientes, mas também da equipe e dos acompanhantes. Alguns
grupos exigem de seus voluntários experiências prévias com a palhaçaria, alguns
oferecem cursos e outros aceitam pessoas de todos os tipos dispostas a fazer as
visitas. Essa falta de sistematização acontece tanto no Brasil, quanto no
exterior, mas não existem dados que afirmem existir diferenças de resultados de
um grupo para outro.
Muito ainda
está para ser descoberto a respeito dos efeitos da presença do palhaço no
ambiente hospitalar, mas uma coisa é certa, um ambiente amoroso, tranquilo e
cheio de bom humor é sempre positivo e como dizem por aí: o riso é o melhor
remédio.
sábado, 20 de maio de 2017
Uma viagem para a velha escola da palhaçaria
No dia 19 de Maio de 2017, acontecia o segundo dia do Fest Clown, um famoso festival de palhaços de Brasília que está em sua décima quarta edição.Um dos principais show do noite foi do americano Avner Eisenberg, denominado "Exceções à gravidade", responsável por cativar todos os tipos de público.
Sem falar uma palavra se quer, aquele senhor de 68 anos surpreendeu a todos com suas habilidades físicas.A essência do palhaço se pôs em prática em cada um de seus números, através de todo pequeno gesto e detalhe imposto em seus objetivos cênicos extremamente cotidianos, que demonstravam uma magia circense no mínimo encantadora.O conjunto de ações responsáveis pelo nome do espetáculo, como malabarismos com seu chapéu, seus tacos e também o equilíbrio de objetos no nariz e no queixo surpreenderam bastante a plateia.Porém no meu ponto de vista, o velho palhaço conquistou a todos com seu carisma e suas técnicas em tempo perfeito da maneira mais irreverente.
Interagindo com o público a todo momento, o senhor que se auto denomina "O palhaço excêntrico", se mostrou de enorme simpatia ao se relacionar com as crianças do público.Pude concluir então que tal espetáculo reviveu parte da criança que existe em mim, sendo impulsionado por números extremamente cômicos, que apesar de aparentarem ser complexos eram realizados com enorme simplicidade.
Sem falar uma palavra se quer, aquele senhor de 68 anos surpreendeu a todos com suas habilidades físicas.A essência do palhaço se pôs em prática em cada um de seus números, através de todo pequeno gesto e detalhe imposto em seus objetivos cênicos extremamente cotidianos, que demonstravam uma magia circense no mínimo encantadora.O conjunto de ações responsáveis pelo nome do espetáculo, como malabarismos com seu chapéu, seus tacos e também o equilíbrio de objetos no nariz e no queixo surpreenderam bastante a plateia.Porém no meu ponto de vista, o velho palhaço conquistou a todos com seu carisma e suas técnicas em tempo perfeito da maneira mais irreverente.
Interagindo com o público a todo momento, o senhor que se auto denomina "O palhaço excêntrico", se mostrou de enorme simpatia ao se relacionar com as crianças do público.Pude concluir então que tal espetáculo reviveu parte da criança que existe em mim, sendo impulsionado por números extremamente cômicos, que apesar de aparentarem ser complexos eram realizados com enorme simplicidade.
sexta-feira, 19 de maio de 2017
segunda-feira, 15 de maio de 2017
Primeiro palhaço negro do Brasil
BENJAMIN DE OLIVEIRA
Benjamim Chaves nasceu em Minas Gerais, no dia 11 de junho de 1870. Foi criança no tempo em que a Lei Áurea ainda vigorava em território nacional, sendo o quarto filho de Malaquias e da escrava Leandra. Conta-se que a sua mãe tinha sido uma escrava de “estimação”, por isso teve todos os filhos alforriados ao nascer, já seu pai era um capataz e era considerado um homem terrível, que batia nele diariamente.
Benjamin fugiu de casa aos 12 anos, segundo o próprio: “meu destino era fugir. Destino de negro…” e juntou-se à troupe do Circo Sotero, atuando em números de trapézio e de acrobacia, fazendo nascer o primeiro palhaço negro do Brasil e, de acordo com o pesquisador Brício de Abreu, o primeiro palhaço negro do mundo.
Do artista Severino de Oliveira, seu orientador no Circo Sotero, tirou seu novo sobrenome. Após quase três anos trabalhando no Circo Sotero, fugiu pela segunda vez, provavelmente porque era espancado. Foi parar num grupo de ciganos onde supôe-se que trabalhou como escravo, já que através de uma moça do grupo descobriu que os ciganos estavam pensando em trocá-lo por um cavalo.
Após andar por várias vilas como mendigo, Benjamim chega à cidade de Mococa, onde finalmente encontra trabalho num circo de um norte-americano chamado Jayme Pedro Adayme. É lá que pela primeira vez seu trabalho no circo é remunerado.

Segundo o próprio Benjamim, “E eu tive que fazer o palhaço. E foi ali, na Várzea do Carmo, naquele barracão de zinco e tábua que eu pela primeira vez apareci vestido de palhaço...”. O resultado das suas primeiras apresentações não foi bom, recebendo, o palhaço, vaias e desaprovações.
Após se estabelecer como artista de circo, Benjamim chegou ao Rio de Janeiro, tendo o seu trabalho reconhecido não apenas pelo público, mas também pelos críticos. Foi no Rio que o palhaço vivenciou um dos momentos mais importantes de sua carreira: o seu desempenho chamou a atenção do presidente da República, o Marechal Floriano Peixoto. Por volta de 1896, conheceu Affonso Spinelli, tendo atuado no Circo Spinelli até os anos de 1930, período que correspondeu aos seus anos de maiores glórias.
Além de seus números de clown e acrobacia, Benjamim cantava, atuava e até escreveu peças de teatro. Suas múltiplas habilidades o transformaram, também, no primeiro artista negro do cinema brasileiro. Foi aclamado como o Rei dos Palhaços no Brasil e respeitado por importantes homens do teatro.
O circo-teatro, introduzido no Rio de Janeiro por Benjamim de Oliveira, teve o seu apogeu entre os anos de 1918 e 1938, ele começou com paródias de operetas e contos de fadas, chegando à apresentação de peças de Shakespeare entre outros. Essa versatilidade fez com que a obra de Benjamim de Oliveira marcasse uma revolução no circo brasileiro.
O reconhecimento da atuação de Benjamim foi aumentando ao longo do tempo e no início do século XX ele já era um artista renomado, mas apesar do seu sucesso, a vida de Benjamim terminou praticamente na miséria. Após intensa campanha movida por jornalistas para que Benjamim de Oliveira recebesse um auxílio financeiro do governo federal, ele finalmente consegue, mas pouco usufrui da pensão, falecendo, em 03 de maio de 1954, aos oitenta e quatro anos.
Fontes: http://www.geledes.org.br/benjamim-de-oliveira-o-primeiro-palhaco-negro-do-brasil/#gs.ljdgfF0
SILVA, Erminia. Circo-teatro : Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil.
. São Paulo : Editora Altana, 2007
Primeira palhaça negra do Brasil
Maria Eliza Alves dos Reis (Palhaço Xamego)
“Negra, pequenina, um metro e meio de muita força e coragem. Coragem essa que foi testada para enfrentar o racismo e o machismo de sua época. Nasceu na primeira década do século 20. Força tamanha que a fez enfrentar a perda de sete filhos ainda pequenos e ainda assim ter toda alegria para criar um casal de rebentos muito amados: um músico, guitarrista do cantor Roberto Carlos por 40 anos, meu tio, Aristeu Alves dos Reis, e uma jornalista, Daise Alves dos Reis Gabriel, minha mãe.
“Na vida, niña, o que vale é saúde. O resto é bolacha!”
Esse foi um dos ensinamentos de Maria-Xamego, tanto para minha mãe, quanto para mim, misturando na frase o espanhol de sua mãe, a bisavó Brígida, que nasceu no Uruguai.Em 1942, elas voltaram para São Paulo e minha avó se casou com o Avô Eurico. Um homem apaixonado, que fugiu com o circo. Nesse período meu tio-avô, Tio Toninho, palhaço Gostoso, que era a grande estrela do Circo Guarani, teve um problema sério de saúde: uma doença degenerativa que o fez amputar as duas pernas. Da necessidade de se ter um palhaço substituto, nasceu o Xamego. E o que no princípio era um papel provisório acabou durando 50 anos.
Não foi fácil. Mulheres não se vestiam de palhaço na época. A ideia de rir de uma mulher – difícil de aceitar ainda na nossa sociedade atual – não agradava naqueles tempos. Foi preciso que minha avó convencesse meu bisavô. E de um jeito tradicional de circo, com o famoso “faz me rir”. Minha avó contava que vestiu uma roupa engraçada, soltou seu cabelo crespo que ficava bem armado e colocou um chapeuzinho bem pequenino na cabeça. Engraçada que era, conseguiu fazer com que meu bisavô turrão se divertisse. E o palhaço Xamego ganhou corpo!
O Xamego tinha participação em quase todos os números: na entrada com o parceiro, apresentando os filhos acrobatas, os irmãos Alves, trabalhando nas comédias e entrando no número dos malabaristas para fazer truques errados.

Normalmente o Circo ficava em temporada nas praças, nome dado aos locais onde se apresentavam. E só no último dia de espetáculo que o mistério era desvendado: minha avó tirava a cabeleira e se apresentava como mulher. Era uma “choradeira” das fãs apaixonadas.
Muitos registros do Circo Guarani foram perdidos. Numa briga de família, minha tia-avó queimou fotos e documentos. Recentemente, em busca de mais detalhes da nossa história encontramos um livro chamado Terceiro Sinal, de autoria de Dirce Militello. Lá, há um capítulo chamado O palhaço que conta as impressões da escritora sobre o Circo da minha família. E há um momento muito bonito em que ela diz ter ficado fascinada ao ver o Xamego, ainda maquiado, num intervalo de cena, amamentando uma criança: meu tio Aristeu. Sobre este episódio:
“A foto que não foi batida, que ficou dentro dos olhos e ainda vejo quando rebusco dentro de mim nos meus velhos guardados. O palhaço amamentando o filho que chorava! No camarim, o menino chorava, ela o amamentava mesmo sem tirar a maquiagem e trocar de roupa. Lá fora muita gente esperava, querendo conhecer o simpático palhaço, principalmente as moças. Engraçado como as moças se apaixonam pelos palhaços, mesmo sem conhecer o rosto… O rosto é que desperta mais atenção primeiro, talvez a curiosidade por saber quem está por trás daquela maquiagem! ou mesmo pela necessidade de sorrir!”.”
- Relato da neta Mariana Gabriel, palhaça Birota.
Fonte: http://todosnegrosdomundo.com.br/minha-avo-era-palhaco-documentario-que-conta-a-historia-da-primeira-palhaca-negra-do-brasil-sera-lancado-hoje/
Fonte: http://todosnegrosdomundo.com.br/minha-avo-era-palhaco-documentario-que-conta-a-historia-da-primeira-palhaca-negra-do-brasil-sera-lancado-hoje/
ENTREVISTA COM PALHAÇOS NEGROS
JOÃO GABRIEL
Carroça
Como você virou palhaço?
Eu sempre gostei muito, no circo, do palhaço. Sempre gostei dessa linguagem menos vaidosa, menos bonitinha por assim dizer e no palhaço eu descobri que poderia usar essa linguagem de várias maneiras tanto irônica, como cômica.
Eu sempre fui uma pessoa que fazia muitas piadinhas, uma pessoa com um humor grande e sempre foi muito natural em mim a “zoeira”, ai um belo dia eu conheci uma pessoa, essa pessoa me levou pra fazer uma oficina dizendo que eu deveria fazer aquilo…eu não acreditava, gostava mas não acreditava que eu poderia fazer aquilo e depois dessa oficina, que foi com uma palhaça de Portugal, a Eva, eu descobri um outro mundo.
Depois disso eu comecei a estudar de verdade, pesquisei videos, livros, comecei a assistir outros palhaçxs e fazer outras oficinas até que dentro desse processo todo eu criei meu número e passei a ser um palhaço.
Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
Esse é um tema muito recorrente na minha vida e de muitas pessoas que fazem palhaçaria, eu ouvi há alguns dias atrás de um amigo que é palhaço que fez muito sentido, o significado da palavra palhaço aqui no Brasil esta muito ligado a uma forma até pejorativa, de pessoas que se vestem de personagens ou um personagem palhaço e fazem algumas coisas que não necessariamente tem haver com esse estado, essa brincadeira essa linguagem.
Por exemplo: eu me visto de palhaço e vou panfletar, não desmerecendo essa função, mas so para entender, e o lance do clown, sim, vem de fora, é uma palavra gringa com um significado bem “gourmet” mas que faz sentido, por que hoje em dia tem uma espécie de circo contemporâneo acontecendo e ai esse lado clown vem com outras linguagens junto.
O clown utiliza-se tanto do teatro como de uma linguagem que foge um pouco do tradicional da palhaçaria, que tem piadas sexistas, homofóbicas, que tem piadas meio batidas que jogam com o lado de preconceito do ser humano ai esse argumento que meu amigo me deu fez um pouco de sentido, mas acho que pra mim a diferença é só a palavra, tipo eu estou no Brasil é palhaço eu estou lá fora é clown e independe na real, depende do que você quer passar, eu até não me intitulo nada. Até evito usar um pouco a palavra clown mas por outros motivos.
Encontrou algum obstáculo e/ou preconceito (racismo, machismo, lgbtfobia..) no seu caminho?
Por fazer isso já rola um preconceito intrínsico, palhaço = artista = vagabundo e esse preconceito rola diariamente principalmente com pessoas que não tem convivência com isso ou que não acreditam que um artista pode ser um agente transformado. E ai muitas pessoas estão usando isso hoje como um motivo a mais pra poder fazer um número, expor uma ideia, tipo jogando esses preconceitos exatamente no ridículo do palhaço para poder falar desses assuntos que antes nem passavam perto de serem falados ou protestados. Já passei preconceito por ser palhaço, por ter tatuagens, por causa do meu cabelo, da minha cor.
Quais artistas nacionais e/ou internacionais que influenciam seu trabalho?
Vou começar com meus mestres e mestras, Eva Ribeiro que é essa palhaça de Portugal, Valentim Flamini que é um palhaço Argentino que foi quem me deu mais gás pra fazer isso que é um palhaço super incrível, mora na Bahia há 10 anos, é um palhaço de rua, o mestre do improviso. Tem palhaços daqui também, o Trevolino que é um palhaço que esta aqui em Brasília, outros dois palhaços Argentinos que eu me inspiro bastante é o Tomate e o Tchacovache, tem o italiano Leo Basse que é bem bufão, tem essa pegada da ironia muito mais forte…entre outros.
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora do teatro?
Já me apresentei tanto na rua como no teatro, minha ideia é transcender isso, não ser necessariamente da rua nem do teatro. Mas eu acredito muito no poder da rua e acredito que todo mundo deve passar por esse lugar, a rua tem um poder muito grande. A espontaniedade de abrir uma roda num lugar que tem várias pessoas passando e a responsabilidade de chamar a atenção daquelas pessoas e passar alguma coisa é incrível, pra mim a palhaçaria é sobre passar alguma coisa de uma forma que as pessoas se identifiquem independentemente do lugar que elas vieram.
ENTREVISTA COM PALHAÇOS NEGROS
VICTOR HUGO
Qual é seu nome artístico?
Marreco coelho cuíca
Como você virou palhaço?
Então, eu fiz uma iniciação com Zé Regino lá em um teatro em Águas claras, Zé Regino que é um grande palhaço daqui de brasilia, ai foi mais ou menos isso, depois fiz algumas pesquisas, fiz um outro curso com um pessoal que ja trabalhou com o Lecoq, com a Ryan Meshkin, que um grupo que se chama Tapontarrê em Campinas e algumas pesquisas assim que eu tenho com o teatro fisico que ajudam com o grupo lume teatro
Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
Eita essa pergunta é dificil… por que eu acho que várias escolas vão dizer coisas diferentes, daonde eu venho, de um dos mestres que eu considero meu mestre palhaço, ele diz que é mais uma questão de estilo e politica de que por estarmos no Brasil a gente se chama de palhaço.
Tem gente que vai comparar o que é Clown com virtuosidade, com algomais vaidoso, mais chique, mais gourmet, mas eu acho que não tem nada com isso, mas eu acho que dentro da palavra palhaço a gente tem td esse historico de valorização de uma cultura que é do povo, que é mais genuina, tradicional, mas acho que tudo isso de clown/palhaço depende muito da escola, acho que so não pode caber dentro dessa discussão do cômico, desse humano que é tão genuino, o elitismo.
Encontrou algum osbtáculo/ preconceito (racismo, machismo, lgbtfobia…) no seu caminho?
Ah com certeza, mas acho que isso são opressões estruturais né, que se encontram eu acho no caminho de artes cênicas em geral por que as artes cênicas estão inseridas nessa sociedade, como diz a bell hooks, do patriarcado capitalista da supremacia branca, então com certeza encontramos essas dificuldades.
Tem uma pesquisa que eu estou desenvolvendo agora que é buscar novamente o figurino desse palhaço, por que é um traje muito europeu, colonial do Marreco atualmente, que eu acho bom por que tem um tom de crítica mas ao mesmo tempo como se torna afro esse palhaço né, e tem transições da própria roupa né, teve uma vez que uma criança me perguntou se eu era trans por que eu uso uma leggin bem apertadinha.
Como o palhaço é a expressão do genuino eu acho que eu nunca tinha discutido no âmbito da negritude meu palhaço, por mais que todas as ações que eu faça seja um negro fazendo, mas eu acho que essas expressões que são minhas, que são genuinas do meu ser, como ser negro ,como ser lgbt, pessoa não binaria em fluxo, pessoa trans, etc. eu tenho dificuldade com essas definições também, mas o palhaço é esse lugar livre, acho que ele também precisa ter esse lugar de questão e de necessidade com definições, o palhaço e o clown são fluidos então tem haver com isso, essa expressão do “eu” que vai encontrar a sociedade e é óbvio que no caminho nos encontramos com essas barreiras.
Apesar de as vezes eu achar que a porta esta mais aberta pra essa menor mascara do mundo, que eh a do palhaço, quando se está com ela, quando se coloca pra jogo nessas dimensões todas.
Quais artistas nacionais e/ou internacionais que influenciam seu trabalho?
Cara, eu conheci um palhaço preto que se chama Benjamin de Oliveira, ele é maravilhoso, assim como é um dos precursores do Circo -Teatro muito pouco lembrado. Aqui em Brasília temos Zé Regino né, Denis Camargo, que são também boas influencias do que seria o palhaço.
Temos Renato Gutti também, que trabalha com isso do cômico, do humor, culturas tradicionais…temos grandes figuras que não são exatamente palhaças mas que tem essa questão do cômico, do humor, que são fontes para que a gente se inspire, como por exemplo Matheus Bastião, um ou outro personagem do movimento harmorial de Ariano Suassuna né, como João Grilo, Xicó.
Tem uma palhaça maravilhosa que é austriaca que se chama Tanja Simma, que um dos melhores trabalhos de palhaços que eu ja vi, e várias outras pessoas incriveis que não me lembro agora.
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora do teatro?
Atualmente eu posso me enquadrar nesse lugar de palhaço de rua mesmo, e foi um lugar que eu me coloquei depois da minha iniciação para eu pesquisar, para entender como seria esse meu palhaço pra jogo. Eu acho que meu maior palco até hoje foi a rodoviária do Plano Piloto, que é onde eu pesquiso.
Por que viva a tradiçao da rua né? Uma grande mestra palhaça, Cecília Borges, coloca que, lembrando a historia do palhaço, o palhaço era aquele que tinha que fazer alguma coisa para as pessoas rirem, pra ganhar uma moeda pra comer né… existe um lugar de sobrevivência pro palhaço da rua, um oficio mesmo, lá guardado nos interiores da função desse riso pra sobrevivência, de que esse oficio apesar de envolver o riso ele é serio e a rua é um espaço democraáico né, a rua é onde nós nos encontramos.
O palhaço é um ser humano exposto, ele é nu, como diria o pessoal do Lecoq. O bufão tem esse lugar do político, da liberdade e o palhaço tem esse lugar do humano, do genuino, então nada melhor do que ter encontros genuinos com essas pessoas que também habitam um espaço genuino, é ali que eu gosto de me espetacularizar por que esse público é sincero e existem muitas barreiras sociais ainda pra chegar no teatro, são espaços de elites, espaços burocratizados.
Ao mesmo tempo eu acho que nem todos que estão vestidos de palhaço, de clown são palhaços, na rua há varias coisas que eu acho que foram perdendo essa tradição, esse encontro com as pessoas, acho que o palhaço esta nesse lugar para transgredir, pra subverter essas ordens do cotidiano, quando ele se instala na rua que é um lugar de performance, de jogar, se pondo pra jogo, é maravilhoso.
terça-feira, 18 de abril de 2017
Bibliografia
Bibliografia
MONTEATH DOS SANTOS, Sarah: Mulheres Palhaças: percursos históricos da palhaçaria feminina no Brasil. São Paulo: dissertação de mestrado em artes - UNESP, 2014.
DE OLIVEIRA FREITAS SACCHET, Patrícia: Da discussão “clown ou palhaço” Às permeabilidades de clownear e palhaçar. Porto Alegre: UFRGS, 2009.
MAIA NASCIMENTO, Elaine Cristina: Comicidade feminina: as possibilidades de construção do cômico no trabalho de mulheres palhaças. Salvador: UFBA, 2014.
KRÜGER, Cauê: Experiência social e expressão cômica – os parlapatões, patifes e paspalhões.. Campinas: Unicamp, 2008.
DA SILVA, Pedro Eduardo: A formação do palhaço circense. São Paulo: Unesp, 2015.
LUBARINO PICCOLI DOS SANTOS, Ivanildo: Os palhaços das manifestações populares brasileiras:Bumba Meu Boi, Cavalo Marinho, Folia de Reis e Pastoril Profano. São Paulo: Unesp, 2008.
SILVA, Ermínia: Circo-teatro : Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil.. São Paulo: Editora Altana, 2007.
CAMARGO, Dênis: A manifestação do afeto no encontro do palhaço visitador com o participante/ enfermo no Projeto Risadinha. Brasília: Universidade Federal de Brasília.
RODRIGUES, André; NUNES FILHO, Wellington: A utilização do palhaço no ambiente hospitalar. Uberlândia: Revisa ouvirouver, 2013.
Filmografia
MELLO, Selton: O palhaço. São Paulo: Globo Filmes, 2011.
GELY, Cyril: Chocolat. França: Califórnia Filmes, 2015
MINEHIRA, Ana & GABRIEL, Mariana: Minha vó era palhaço. São Paulo: 2014
Videografia
O Palhaço Negro: A história de Benjamin de Oliveira. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=puhmRTsIgpI> acessado em: 15/05/2017 às 20:45.
Entrevista: Ana Flávia Garcia - Palhaça Geléia. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=88GAN7cRe8M> acessado em: 15/05/2017 às 21:02.
Palhaça Carmela em Retalhos Populares | documentário. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=ogMQIfhy9dA> acessado em: 16/05/2017 às 14:12.
Teaser palhaças. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=eXjgDycZHG4> acessado em: 16/05/2017 às 14:36.
Colette Gomette Prézidente. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=x5WpIfJmr1A> acessado em: 16/05/2017 às 15:01.
Lars Adams. Disponível em: < https://www.facebook.com/PlayGroundBR/videos/376890176039300/ > acessado em 01062017 às 11:27
Patch Adams - Trailer legendado. disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=q9YsMfAqZa4 > acessado em: 01062017 Às 11:50
Sites
Perfil de um Doutor. Disponível em: <http://www.doutoresdaalegria.org.br/wp-content/uploads/2012/04/O_perfil_de_um_Doutor.pdf> acessado em 19/05/2017 às 17:17.
GABRIEL, Mariana; GOMES, Christiane: Minha vó era palhaço. Disponível em:
<http://todosnegrosdomundo.com.br/minha-avo-era-palhaco-documentario-que-conta-a-historia-da-primeira-palhaca-negra-do-brasil-sera-lancado-hoje/ > acessado em 15/05/2017 às 20:00.
Benjamim de Oliveira: O primeiro palhaço negro do Brasil. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/benjamim-de-oliveira-o-primeiro-palhaco-negro-do-brasil/#gs.=F15HWs> acessado em 15/05/2017 às 20:20.
Benjamin de Oliveira. Disponível em: <http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/hist%C3%B3ria-e-mem%C3%B3ria/historia-e-memoria/2014/12/30/benjamim-de-oliveira > acessado em 15/05/2017 às 20:27.
Benjamim de oliveira (1870-1954). Disponível em: <http://antigo.acordacultura.org.br/herois/heroi/benjaminde-oliveira > acessado e, 15/05/2017 às 20:38.
domingo, 16 de abril de 2017
Visita ao Circo Grock
No dia 2 de abril de 2017, decidimos ir ao circo para iniciar nossa pesquisa sobre humor em cena de maneira imersiva. Fomos ao Circo Grock que estava instalado no CCBB, nesse momento em especial ocorria um evento chamado palhaças no mundo, que acabou trazendo mais importância ainda a nossa visita. Logo de início nos deparamos com o casal de palhaços anfitriões, os mesmos faziam muito uso de jogos corporais e tentavam cativar a plateia para si. O constante humor físico era facilmente notável assim como na maioria dos clowns, nada que fugisse muito do convencional.
Além dos palhaços principais
ainda tiveram mais dois, uma palhaça que andava de patins e usava da variação
de velocidade para arrecadar risadas e um palhaço equilibrista que explorava
seu jeito desastrado para ganhar o público. Além de tudo o espetáculo também
contava com a presença de um mágico, que para não sair de seu estereótipo
misterioso não soltou uma palavra durante todo show.
Mas como nosso foco é o
humor, pudemos destacar o clássico e recorrente número do cachorro invisível
feito pelo casal de palhaços, que só conseguiu arrancar risada de algumas
crianças. Também tivemos a tentativa um tanto quanto frustrada da segunda palhaça,
de incluir pessoas da plateia em seu número nem um pouco interessante de
balançar bambolês. Mas em minha opinião o que salvou todo o espetáculo, foi a
mistura de tensão e comicidade do palhaço equilibrista ao tentar subir em um
mastro. Pelo fato de quatro voluntários estarem puxando o mastro para buscar equilíbrio,
a instabilidade parecia provocar certo medo no artista, (que certamente já estava
bem acostumado em fazer isso) o que fazia toda a comicidade do número.
Depois de tal visita, pudemos
ter certa noção de como funciona o Clown de circo. Mesmo de maneira compacta e
sem nada muito especial, o Circo Grock se mostrou um programa familiar o qual
crianças pudessem se divertir através do clássico humor buscado através da
palhaçaria circense.
quarta-feira, 12 de abril de 2017
Filme Chocolat
Um ótimo filme, muito recomendado para quem busca saber mais sobre o circo Francês (palhaços augusto e branco) e sobre a trajetória do mais famoso palhaço negro do século XIX e os preconceitos por ele enfrentados.
segunda-feira, 10 de abril de 2017
Entrevistando palhaços
Arthur Resende tem 18 anos, é palhaço nos semáforos da Asa sul e nos concedeu essa entrevista contando um pouco da sua experiência.
Qual é seu nome artístico?
Tenho vários, mas o principal deles é Corsales. É
uma junção de escorpião, sagitário e leão, que são meu sol, ascendente e lua.
Como virou palhaço?
Desde criança eu sou palhaço, desde
guri me vestia de palhaço. Meu primeiro contato com palhaços foi quando assisti
um espetáculo do Cirque du Soleil, fiquei apaixonado por aquele universo, mais
do que eu já era. Mas o Corsales surgiu quando eu saí de casa e fui morar na
rua, então passei a desenvolver um palhaço de semáforo, porque eu sempre via muitos
malabaristas e muitos artesãos e nunca tinha visto palhaço, foi assim que
começou.
Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
Eu particularmente não vejo diferença, mas muita gente
vê. O clown seria um palhaço mais teatral, que se expressa sem precisar falar
muito e mesmo assim faz o público rir. Já o palhaço acredito que ele seja um
cara mais falante, que interage mais diretamente com o público.
Encontro algum obstáculo/preconceito no seu caminho?
O preconceito existe. Quando você fala
que quer ser palhaço, rola um preconceito da família e dos amigos, mas quando
eles viram que eu realmente era bom em ser palhaço, que essa é a minha essência,
não existe mais preconceito. Inclusive meu pai, que é muito tradicional, que
acha que todo mundo deveria fazer concurso público, até ele, hoje em dia, me
incentiva a ser palhaço. Agora eu consegui ser valorizado como profissional.
Quais os artistas nacionais e/ou internacionais que você
se inspira, que influenciam seu trabalho?
Uma das minhas inspirações é o Slava Poulin, um palhaço
russo, que segue uma linha mais teatral. Ele usa sonoplastia de uma forma incrível
nos espetáculos. Trabalhei também com um palhaço chamado Valentin Flamini, não
diria que ele é uma inspiração, mas me identifiquei bastante com ele. Por último
tem uma dupla que se chama Umbilical Brothers, eles não são exatamente palhaços,
mas trabalham com comédia por meio da mímica, eles são muito bons. Gosto muito
dessa vertente da mímica.
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que
te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora
do teatro?
Eu sou um clown de rua. A minha
linha é mais sentimental, mais dramática, minha grande inspiração é o teatro do
oprimido e de certa forma eu incorporo isso no palhaço. O que me inspira a ser
palhaço de rua? Pergunta interessante... acho que o ser palhaço por si só já é
uma inspiração, porque quando você é palhaço de rua, quando você está
interagindo com o público, você recebe o sorriso das pessoas. Isso é
gratificante, não necessariamente só pelo sorriso, mas pelo afeto que é perceptível
nos olhos do espectador, pelo sorriso inocente, que naquele momento o público
se torna tão inocente quanto o palhaço. Uma vez fiz uma apresentação e uma das
pessoas que estava me assistindo era uma criança com deficiência e ela
demonstrava tanto amor pelo palhaço, que quando eu tive que ir embora ela ficou
tão triste, que eu não aguentei e tive que ficar mais. Quando eu passei por
essa experiencia eu parei para refletir e me dei conta que é por isso que eu
sou palhaço.
Essa é sua principal fonte de renda?
Não, ainda não é minha principal
fonte de renda.
Qual sua opinião a respeito de cobrar ingressos para
espetáculos em locais públicos?
Eu acho justo, porque é uma
profissão, por mais que o palhaço esteja brincando ele treina, ele trabalha em
coisas novas, lida com diversas rejeições na rua e aprendem a conviver com
situações adversas, é valido você pagar uma pessoa que consegue estar ali. Não
sei se cobrar um preço fixo em um local público é legal, mas é justo o
espectador colaborar com a arte daquele profissional. Se a pessoa não tem
dinheiro para te pagar, mas tiver uma conversa, uma experiência para
compartilhar isso também é válido.
Você passou por algum ritual de passagem para se
tornar palhaço?
Eu sou muito autodidata, não
participei de um grupo para minha formação como palhaço. Tenho meus próprios
rituais para entrar em cena, mas nunca passei por um ritual de iniciação. Na
verdade, eu considero que conseguir vencer a plateia do semáforo, minha
primeira plateia, foi uma passagem.
Assinar:
Postagens (Atom)
O pai dos Bufões
Um outro tipo de palhaço é o chamado bufão, uma figura um tanto quanto esquisita que incomoda muita gente. Conhecido por fazer críticas s...

-
A típica e estereotipada figura do palhaço conta sempre com trajes extravagantes, cores enérgicas são muito presentes em suas roupas, se...
-
Maria Eliza Alves dos Reis (Palhaço Xamego) “Negra, pequenina, um metro e meio de muita força e coragem. Coragem essa que foi testa...