Arthur Resende tem 18 anos, é palhaço nos semáforos da Asa sul e nos concedeu essa entrevista contando um pouco da sua experiência.
Qual é seu nome artístico?
Tenho vários, mas o principal deles é Corsales. É
uma junção de escorpião, sagitário e leão, que são meu sol, ascendente e lua.
Como virou palhaço?
Desde criança eu sou palhaço, desde
guri me vestia de palhaço. Meu primeiro contato com palhaços foi quando assisti
um espetáculo do Cirque du Soleil, fiquei apaixonado por aquele universo, mais
do que eu já era. Mas o Corsales surgiu quando eu saí de casa e fui morar na
rua, então passei a desenvolver um palhaço de semáforo, porque eu sempre via muitos
malabaristas e muitos artesãos e nunca tinha visto palhaço, foi assim que
começou.
Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
Eu particularmente não vejo diferença, mas muita gente
vê. O clown seria um palhaço mais teatral, que se expressa sem precisar falar
muito e mesmo assim faz o público rir. Já o palhaço acredito que ele seja um
cara mais falante, que interage mais diretamente com o público.
Encontro algum obstáculo/preconceito no seu caminho?
O preconceito existe. Quando você fala
que quer ser palhaço, rola um preconceito da família e dos amigos, mas quando
eles viram que eu realmente era bom em ser palhaço, que essa é a minha essência,
não existe mais preconceito. Inclusive meu pai, que é muito tradicional, que
acha que todo mundo deveria fazer concurso público, até ele, hoje em dia, me
incentiva a ser palhaço. Agora eu consegui ser valorizado como profissional.
Quais os artistas nacionais e/ou internacionais que você
se inspira, que influenciam seu trabalho?
Uma das minhas inspirações é o Slava Poulin, um palhaço
russo, que segue uma linha mais teatral. Ele usa sonoplastia de uma forma incrível
nos espetáculos. Trabalhei também com um palhaço chamado Valentin Flamini, não
diria que ele é uma inspiração, mas me identifiquei bastante com ele. Por último
tem uma dupla que se chama Umbilical Brothers, eles não são exatamente palhaços,
mas trabalham com comédia por meio da mímica, eles são muito bons. Gosto muito
dessa vertente da mímica.
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que
te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora
do teatro?
Eu sou um clown de rua. A minha
linha é mais sentimental, mais dramática, minha grande inspiração é o teatro do
oprimido e de certa forma eu incorporo isso no palhaço. O que me inspira a ser
palhaço de rua? Pergunta interessante... acho que o ser palhaço por si só já é
uma inspiração, porque quando você é palhaço de rua, quando você está
interagindo com o público, você recebe o sorriso das pessoas. Isso é
gratificante, não necessariamente só pelo sorriso, mas pelo afeto que é perceptível
nos olhos do espectador, pelo sorriso inocente, que naquele momento o público
se torna tão inocente quanto o palhaço. Uma vez fiz uma apresentação e uma das
pessoas que estava me assistindo era uma criança com deficiência e ela
demonstrava tanto amor pelo palhaço, que quando eu tive que ir embora ela ficou
tão triste, que eu não aguentei e tive que ficar mais. Quando eu passei por
essa experiencia eu parei para refletir e me dei conta que é por isso que eu
sou palhaço.
Essa é sua principal fonte de renda?
Não, ainda não é minha principal
fonte de renda.
Qual sua opinião a respeito de cobrar ingressos para
espetáculos em locais públicos?
Eu acho justo, porque é uma
profissão, por mais que o palhaço esteja brincando ele treina, ele trabalha em
coisas novas, lida com diversas rejeições na rua e aprendem a conviver com
situações adversas, é valido você pagar uma pessoa que consegue estar ali. Não
sei se cobrar um preço fixo em um local público é legal, mas é justo o
espectador colaborar com a arte daquele profissional. Se a pessoa não tem
dinheiro para te pagar, mas tiver uma conversa, uma experiência para
compartilhar isso também é válido.
Você passou por algum ritual de passagem para se
tornar palhaço?
Eu sou muito autodidata, não
participei de um grupo para minha formação como palhaço. Tenho meus próprios
rituais para entrar em cena, mas nunca passei por um ritual de iniciação. Na
verdade, eu considero que conseguir vencer a plateia do semáforo, minha
primeira plateia, foi uma passagem.
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