segunda-feira, 10 de abril de 2017

Entrevistando palhaços

Arthur Resende tem 18 anos, é palhaço nos semáforos da Asa sul e nos concedeu essa entrevista contando um pouco da sua experiência.


Qual é seu nome artístico?
       Tenho vários, mas o principal deles é Corsales. É uma junção de escorpião, sagitário e leão, que são meu sol, ascendente e lua.

Como virou palhaço?
        Desde criança eu sou palhaço, desde guri me vestia de palhaço. Meu primeiro contato com palhaços foi quando assisti um espetáculo do Cirque du Soleil, fiquei apaixonado por aquele universo, mais do que eu já era. Mas o Corsales surgiu quando eu saí de casa e fui morar na rua, então passei a desenvolver um palhaço de semáforo, porque eu sempre via muitos malabaristas e muitos artesãos e nunca tinha visto palhaço, foi assim que começou.

Na sua opinião qual a diferença entre clown e palhaço?
        Eu particularmente não vejo diferença, mas muita gente vê. O clown seria um palhaço mais teatral, que se expressa sem precisar falar muito e mesmo assim faz o público rir. Já o palhaço acredito que ele seja um cara mais falante, que interage mais diretamente com o público.  

Encontro algum obstáculo/preconceito no seu caminho?
        O preconceito existe. Quando você fala que quer ser palhaço, rola um preconceito da família e dos amigos, mas quando eles viram que eu realmente era bom em ser palhaço, que essa é a minha essência, não existe mais preconceito. Inclusive meu pai, que é muito tradicional, que acha que todo mundo deveria fazer concurso público, até ele, hoje em dia, me incentiva a ser palhaço. Agora eu consegui ser valorizado como profissional. 

Quais os artistas nacionais e/ou internacionais que você se inspira, que influenciam seu trabalho?
         Uma das minhas inspirações é o Slava Poulin, um palhaço russo, que segue uma linha mais teatral. Ele usa sonoplastia de uma forma incrível nos espetáculos. Trabalhei também com um palhaço chamado Valentin Flamini, não diria que ele é uma inspiração, mas me identifiquei bastante com ele. Por último tem uma dupla que se chama Umbilical Brothers, eles não são exatamente palhaços, mas trabalham com comédia por meio da mímica, eles são muito bons. Gosto muito dessa vertente da mímica.
  
Você é palhaço de rua ou de teatro? Se de rua, o que te motiva e o porquê acha importante manter essa tradição de espetáculos fora do teatro?
           Eu sou um clown de rua. A minha linha é mais sentimental, mais dramática, minha grande inspiração é o teatro do oprimido e de certa forma eu incorporo isso no palhaço. O que me inspira a ser palhaço de rua? Pergunta interessante... acho que o ser palhaço por si só já é uma inspiração, porque quando você é palhaço de rua, quando você está interagindo com o público, você recebe o sorriso das pessoas. Isso é gratificante, não necessariamente só pelo sorriso, mas pelo afeto que é perceptível nos olhos do espectador, pelo sorriso inocente, que naquele momento o público se torna tão inocente quanto o palhaço. Uma vez fiz uma apresentação e uma das pessoas que estava me assistindo era uma criança com deficiência e ela demonstrava tanto amor pelo palhaço, que quando eu tive que ir embora ela ficou tão triste, que eu não aguentei e tive que ficar mais. Quando eu passei por essa experiencia eu parei para refletir e me dei conta que é por isso que eu sou palhaço.

Essa é sua principal fonte de renda?
           Não, ainda não é minha principal fonte de renda.

Qual sua opinião a respeito de cobrar ingressos para espetáculos em locais públicos?
           Eu acho justo, porque é uma profissão, por mais que o palhaço esteja brincando ele treina, ele trabalha em coisas novas, lida com diversas rejeições na rua e aprendem a conviver com situações adversas, é valido você pagar uma pessoa que consegue estar ali. Não sei se cobrar um preço fixo em um local público é legal, mas é justo o espectador colaborar com a arte daquele profissional. Se a pessoa não tem dinheiro para te pagar, mas tiver uma conversa, uma experiência para compartilhar isso também é válido.  

Você passou por algum ritual de passagem para se tornar palhaço?
           Eu sou muito autodidata, não participei de um grupo para minha formação como palhaço. Tenho meus próprios rituais para entrar em cena, mas nunca passei por um ritual de iniciação. Na verdade, eu considero que conseguir vencer a plateia do semáforo, minha primeira plateia, foi uma passagem. 

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